Solos vivos: um recurso essencial para a sustentabilidade da agricultura das Américas
Brasília, 12 de fevereiro de 2021 (IICA) – Sustentar e reforçar a posição da América Latina como um dos principais produtores e exportadores globais de alimentos exige melhorar a qualidade do solo da região, algo imprescindível para aumentar a segurança alimentar e nutricional. Além disso, os solos ricos em nutrientes ajudam a mitigar os nocivos efeitos da mudança do clima.
Essas foram as principais mensagens expostas pelo Prêmio Mundial da Alimentação de 2020 e Distinto Professor da Universidade do Estado de Ohio, Rattan Lal, em uma entrevista concedida ao programa de TV Agro América, fruto de uma parceria entre o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) e o canal brasileiro AgroMais.
Lal, principal autoridade mundial em ciências do solo e Embaixador da Boa Vontade do IICA, descreveu as práticas que devem ser adotadas para converter a agricultura em uma fonte de soluções para os problemas globais.
“Definitivamente precisamos de uma mudança de paradigma. A ideia é incentivar os produtores para que mantenham o solo sempre com vegetação e que não arem a terra na baixa temporada. Todo resíduo da colheita anterior deve ser deixado na superfície do solo para protegê-lo da chuva, do vento e de altas e baixas temperaturas. Os organismos do solo também precisam de um habitat e de fontes de alimento para que as plantações sejam tanto fonte de alimento como habitat para os organismos do solo”, explicou o cientista.
O IICA, Lal e o Centro de Gestão e Sequestro de Carbono (C-MASC) — dirigido pelo laureado cientista na Universidade do Estado de Ohio — trabalham na iniciativa “Solos vivos das Américas” com o objetivo de articular esforços públicos e privados no combate à degradação dos solos, fenômeno que ameaça solapar a capacidade dos países de satisfazer a demanda de alimentos de maneira sustentável.
Nesse âmbito e utilizando os melhores enfoques de gestão, a cooperação técnica internacional trabalhará com governos, organismos internacionais, universidades, o setor privado e organizações da sociedade civil para ajudar a interromper processos de degradação da terra e da agricultura que esgotam a matéria orgânica dos solos.
Em referência a essa iniciativa, Lal lembrou que, na América Latina e no Caribe, 31 milhões de pessoas já se encontravam em situação de insegurança alimentar antes da pandemia de Covid-19.
“Além da má-nutrição, há a desnutrição. A qualidade dos alimentos não é tão boa, em termos de conteúdo de proteínas, micronutrientes e vitaminas. Portanto, precisamos melhorar a saúde dos alimentos a partir dos lugares em que são produzidos para aumentar sua qualidade nutricional. Não se trata de ter comida suficiente, carboidratos e açúcares. A questão são os micronutrientes, proteínas, vitaminas e outros elementos essenciais críticos”, disse.
O cientista alertou que é possível que, no futuro, haja um aumento na incidência de pandemias, caso a interferência humana em relação à vida silvestre aumente.
“Uma maior interação entre os humanos e a vida silvestre pode aumentar o problema do transporte de doenças dos animais selvagens aos humanos. É de nosso interesse introduzir uma zona de amortização entre os seres humanos e a vida silvestre e, além disso, é muito importante devolver áreas à natureza. Os humanos deveriam pensar em salvar a terra”, disse.
No programa, Lal também destacou que a América Latina experimentou um "tremendo progresso" agrícola nas últimas três décadas, mas destacou que, onde não se adotam as melhores práticas — seja em pequenas propriedades rurais ou em agricultura em grande escala —, a degradação ocorre como resultado da compactação do solo, pelo uso de maquinários e da erosão produzida em solos com pouco conteúdo orgânico.
“A maioria dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas podem ser alcançados em 2030. Temos dez anos, mas só os alcançaremos com uma gestão adequada do solo e da agricultura. Se não for assim, será muito difícil alcançar esses objetivos”, advertiu, enfatizando sobre as consequências que a degradação do solo pode ocasionar nas importações da região.
“O Brasil, a Argentina, o Chile e parte do Peru e do México são países exportadores de alimentos, mas, ao mesmo tempo, importadores. O Brasil, por exemplo, importa trigo. Não há produção de trigo suficiente, e muitos países, devido aos efeitos da mudança do clima, podem aumentar as importações”, previu Lal.
Nesse sentido, o professor recomendou compensar os agricultores pelos serviços ecossistêmicos para fomentar a captura de carbono a fim de mitigar os efeitos da mudança do clima e aumentar a qualidade e a renovação da água e da biodiversidade.
O programa Agro América é o resultado de uma parceria entre o IICA e o canal brasileiro de TV AgroMais, do Grupo Bandeirantes de comunicação, transmitido às quintas-feiras com repetição aos sábados e domingos.
Fora do Brasil, é transmitido pelos canais de cabo Claro (189 e 689); Vivo (587); Sky (569) e OI (176), e pode ser assistido pelos canais do IICA e do AgroMais no YouTube.
Veja a entrevista com Rattan Lal aqui.
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