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Uso de fontes renováveis de energia para o Projeto de Integração do Rio São Francisco

País de publicação
Brasil

Estudo inédito irá determinar a viabilidade técnica, econômico-financeira e ambiental para a utilização de fontes renováveis de energia agregadas ao Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF). A iniciativa é do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) e da Secretaria de Infraestrutura Hídrica do Ministério da Integração Nacional (MI), no âmbito do Projeto de Cooperação Técnica Internacional (PCT) Interáguas.

As fontes de energia identificadas, que podem ser de natureza hídrica, solar e/ou eólica, irão atender o consumo do próprio PISF e ainda poderão ter sua potencialidade excedente aproveitada em outros projetos ou oportunidades de negócio.

Os maiores custos de operação do PISF são relacionados ao consumo de energia elétrica, em grande parte para bombear a água do São Francisco para as bacias setentrionais do Nordeste. Daí a importância do estudo que está sendo conduzido pela cooperação entre MI e IICA, com execução do Consórcio contratado, composto pelas empresas Projconsult, Elementos e Camp.

“Além de atender ao consumo do PISF, o suprimento de energia a partir de fontes renováveis como a solar e eólica vai contribuir para o cumprimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e sua Agenda 2030”, ressalta Romélia Souza, especialista do IICA Brasil. “Adicionar novas fontes limpas à matriz energética do PISF é uma relevante medida de mitigação e adaptação aos efeitos das mudanças climáticas, além de melhorar a sustentabilidade do empreendimento e contribuir para a redução das emissões de gases do efeito estufa”, completa.

Etapas e perspectivas
Para avaliar o potencial de exploração de cada uma das fontes em questão, o trabalho inclui análise de relatórios técnicos existentes, das tendências de mercado em energias renováveis, levantamento dos aspectos técnicos da região de implantação (geologia, acesso, restrições ambientais, hidrografia, clima etc.) e levantamento da legislação e regulamentação sobre energias renováveis. Também serão observados custos de investimento e de operação.

Experiência-modelo: Técnicos do MI sobre os painéis flutuantes
na Fazenda Figueiredo, em Goiás

De acordo com IICA e MI, todo o processo passará pelo crivo ambiental, que irá validar o trabalho continuamente, já que devem ser consideradas as consequências socioambientais envolvidas.

O Brasil já utiliza em sua matriz energética uma grande quantidade de fontes renováveis, quase 40%, enquanto a média mundial é de menos de 14%. A fonte mais usada no país é a hidrelétrica, mas é crescente a participação da energia elétrica produzida por empreendimentos concebidos com base em fontes renováveis de energia como a eólica, solar de biomassa e pequenas centrais hidrelétricas, com o objetivo de aumentar a segurança energética, reduzir as emissões de gases do efeito estufa, regionalizar a produção, e introduzir novas tecnologias, modernizando o parque industrial nacional e valorizando as respectivas localidades.

Como no PISF a água é aspecto principal, análises preliminares do estudo avaliam, inclusive, tecnologias inovadoras e relevantes em outros países, tais como a geração solar sobre espelho d’água (ou canais). Esta tecnologia já é empregada em diversos locais do mundo, e possibilita que a evaporação seja reduzida drasticamente, segundo pesquisas realizadas. Os painéis solares montados no canal bloqueiam a radiação do sol, ajudando a manter a água na sombra, diminuindo a evaporação da água. De acordo com estimativas informadas pelo Consórcio executor do projeto, uma planta de 1 MW pode economizar 9 milhões de litros de água por ano. À medida que a área coberta pelos painéis solares aumenta, uma grande quantidade de água é salva. Os painéis fotovoltaicos solares também oferecem outra vantagem: com a ausência de luz solar, o crescimento de algas é minimizado, ajudando também na redução do custo de manutenção e aumentando a vida útil dos equipamentos.

Conheça o PISF
O Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF) é a maior obra de infraestrutura hídrica do país. Com mais de 450 km de extensão nos eixos Leste e Norte, é desenvolvido pelo Ministério da Integração Nacional (MI) com o objetivo de assegurar, até 2025, a oferta de água para cerca de 12 milhões de pessoas em 390 municípios do Agreste e do Sertão Nordestino, envolvendo Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. No Eixo Norte do Projeto, por exemplo, está prevista a instalação de duas usinas hidrelétricas, para aproveitamento da queda natural existente nas barragens Jati e Atalho. O estudo do MI e IICA também vai considerar essas hidrelétricas, aplicando os mesmos aspectos de viabilidade para avaliar sua implantação.

Visita técnica
Dentro dessa temática e do escopo do Projeto de Cooperação Técnica (PCT) com o MI no âmbito do Interáguas, o IICA Brasil realizou, recentemente, uma visita técnica à Fazenda Figueiredo, em Cristalina (GO), para conhecer boas práticas em energia fotovoltaica com o uso de painéis flutuantes. A visita foi intermediada pelo consórcio Projconsult/Elementos/Camp e permitiu que técnicos do IICA pudessem verificar a iniciativa em funcionamento.

Casa de equipamentos, estrutura física de apoio à usina, com
estação meteorológica instalada acima, na Fazenda
Figueiredo, em Goiás

A experiência é a primeira a ser implantada no Brasil e consiste em uma usina com capacidade de geração de 303 kWp (considerada de pequeno porte); um reservatório de 6.000 m², no qual foram instalados os painéis; e 1.150 placas fotovoltaicas instaladas.

O sistema possui alta eficiência energética comprovada, pois produz 14% a mais de eletricidade em relação às instalações em telhados ou no solo. Isso ocorre por conta do resfriamento dos painéis fotovoltaicos, em decorrência de sua instalação em reservatório de água.

O reservatório é abastecido por água de chuva com captação no telhado de um galpão e também do escoamento da estrada próximos ele. A eficiência da produção de energia fotovoltaica é estimada a partir da expectativa de geração dada pela quantidade de insolação. Dessa forma, são realizadas estimativas anuais de geração de energia fotovoltaica a partir dos dados meteorológicos de radiação solar.

Fotos: Rodolfo Daldegan/IICA