Após a “tormenta perfeita”, a bioenergia oferece soluções para recuperação pós-pandemia
San José, 20 de outubro de 2020 (IICA). A restrição à circulação imposta pelos governos em quase todo o planeta causou uma grande queda na demanda por combustíveis e biocombustíveis, provocando grandes perdas econômicas e graves problemas logísticos e de produção.
Mas, depois da catástrofe, o setor volta a se expandir e prevê aumento na produção de bioetanol de milho na Argentina, uso crescente de biocombustíveis na aviação e na carga marítima e maior atuação do biogás e biometano.
Esses foram os cenários expostos na III plenária da Conferência Internacional sobre Bioeconomia Aplicada, realizada virtualmente por meio das plataformas on-line do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).
É a primeira vez que a América Latina recebe a Conferência Internacional sobre Bioeconomia Aplicada, cuja edição 2020 chegou à região por meio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Pesca da Argentina e do IICA, coorganizadores do evento deste ano junto com o Consórcio Internacional de Pesquisa em Bioeconomia Aplicada (ICABR, sigla em inglês).
A Conferência Internacional de Bioeconomia Aplicada é considerada o principal espaço do mundo dedicado a definir, discutir e desenvolver as potencialidades da bioeconomia para o desenvolvimento e o evento atrai a cada ano a participação e atenção de profissionais das ciências agronômicas, universidades e os principais centros educacionais do mundo.
Na sessão plenária intitulada “O papel da Bioenergia no pós COVID-19”, participaram Luis Zubizarreta, presidente da Câmara Argentina de Biocombustíveis (CARBIO); Patrick Adam, Diretor Executivo da Câmara Argentina de Bioetanol de Milho; Suani Teixeira Coelho, coordenadora do Grupo de Pesquisa em Bioenergia (GBIO) e membro do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEE) da Universidade de São Paulo (USP) no Brasil; Juan Sebastián Diaz, consultor regional de etanol para a América Latina no U.S. Grains Council dos Estados Unidos; e Agustín Torroba, especialista internacional em biocombustíveis do IICA.
Ao analisar os casos por país, Adam destacou que a demanda por bioetanol argentino teve uma queda recorde de 88% nos meses de isolamento máximo, e então iniciou um processo de recuperação mais lento do que o esperado.
No caso do Brasil, o país passou por situação similar, com uma queda de 50% e o agravante de que os preços retrocederam 35% durante a pandemia. A isso somou-se o fato de que muitos engenhos, por não possuírem instalações para a produção de açúcar, ficaram sem capacidade de armazenamento para continuar produzindo. Teixeira Coelho descreveu a situação como a "tormenta perfeita".
Por sua vez, Sebastián Diaz estimou em US $ 7 bilhões as perdas da indústria de bioetanol provocadas pela pandemia. Nos Estados Unidos, a recuperação está sendo mais rápida do que na Argentina e no Brasil, já que o consumo de bioetanol está apenas 4% abaixo dos níveis de 2019. Mesmo assim, o resultado final do ano registraria uma queda de 20% ante a 2019.
Para fazer frente a essas perdas econômicas e sérios problemas logísticos e de produção, os palestrantes destacaram a contribuição dos biocombustíveis e sua produção por meio das biorrefinarias.
Segundo Adam, o aporte da indústria do bioetanol é indispensável para o fortalecimento das economias regionais argentinas. Também para economizar divisas para a substituição das importações de gasolina e o cumprimento dos objetivos assumidos pela Argentina para reduzir suas emissões de carbono.
Ele acrescentou que há muito espaço para crescer na produção de bioetanol de milho, já que a Argentina exporta 64% da produção do cereal não processado. Uma cifra muito superior em comparação com o Brasil (36%) e os EUA (14%).
Luis Zubizarreta se referiu à biorrefinaria (processo de produção de biocombustíveis) e em como a indústria argentina de biodiesel tem servido de motor para o desenvolvimento de outras indústrias.
Ele destacou que as exportações de glicerina ultrapassam US $ 100 milhões anuais e levantou o desafio de escalar para novos produtos, como bioplásticos, pesticidas e fertilizantes. Ele pediu a eliminação dos obstáculos à exportação e descreveu exemplos em que o biocombustível é utilizado na forma pura, sem qualquer tipo de problema nos motores.
Suani Teixeira Coelho referiu-se ao importante papel que o biogás e o biometano cumprem na bioeconomia circular do Brasil. Acrescentou que o número de fábricas tem registado um crescimento substancial, em alguns casos com projetos inovadores, como a injeção de biometano na rede de gás natural e o arranque para uma unidade de gaseificação de resíduos sólidos de pequena escala.
Explicou também os detalhes do funcionamento do RenovaBio, programa pelo qual créditos de descarbonização são compensados aos produtores de biocombustíveis que reduzem as emissões de carbono e disse que se está estudando a possibilidade de estender o programa para outros setores da economia.
Sebastián Diaz também se referiu à possibilidade do bioetanol apresentar-se como aliado no uso de gasolina, por ser a fonte de octanagem mais econômica do mercado. Ele ressaltou que implementar um corte de 10% na gasolina com bioetanol é algo muito simples que pode ser feito a qualquer momento. E acrescentou que o biocombustível também pode ser um complemento à mobilidade elétrica, referindo-se ao protótipo e-Bio Fuel-Cell apresentado pela empresa Nissan que está equipado com uma célula a combustível de óxido sólido.
Torroba, por sua vez, alertou que na América 100 milhões de habitantes vivem em cidades com problemas de poluição do ar e que o transporte é responsável por 14% das emissões de gases de efeito estufa.
Ele informou que, embora as vendas de automóveis elétricos tenham sido recorde em 2019, elas mal cobriram 2,6% das vendas totais, e que 90% foram registradas na China, Europa e Estados Unidos.
“A transição para a mobilidade elétrica será muito lenta, especialmente na América Latina, onde a infraestrutura elétrica é mais frágil. Os biocombustíveis integrarão os novos paradigmas da mobilidade, em especial nos setores da aviação e do comércio marítimo, uma vez que estão a sofrer fortes pressões para sua descarbonização”, detalhou Torroba.
Mais informação:
Gerência de Comunicação Institucional do IICA.
comunicacion.institucional@iica.int