Nos Diálogos Regionais da Água, países da América Latina e do Caribe prestaram conta de seus projetos para enfrentar a crise hídrica
São José, 12 de março de 2024 (IICA) — Além de produzir alimentos, a agricultura pode se converter em produtora de água, e diversos países da América Latina e do Caribe já implementaram políticas e projetos nesse sentido, com o objetivo de contribuir para mitigar a crise hídrica, disseram altos funcionários e representantes de organismos internacionais reunidos na sede central do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).
Os detalhes das ações que estão sendo executadas na região para enfrentar o problema do acesso à água foram contados em um painel de alto nível realizado no âmbito da IV edição dos Diálogos Regionais da Água na América Latina e no Caribe, organizados pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) e o IICA.
Uma das metas desses Diálogos é levar uma mensagem regional da América Latina e do Caribe para o próximo Foro Mundial da Água que acontecerá entre 18 e 25 de maio em Bali, Indonésia. Trata-se do maior evento mundial sobre água, que esse ano será realizado sob o lema “Água para a prosperidade compartilhada”.
No contexto dos Diálogos, um espaço de três dias de atividades destinadas a promover inovações e mobilizar a cooperação e o financiamento para enfrentar a crise da água, a sessão intitulada Água, Agricultura e Ecossistemas foi coorganizada pela CEPAL e o IICA, juntamente com a FAO. Ele fez referência aos caminhos para melhorar as capacidades e as condições dos países para realizar uma gestão dos recursos hídricos ordenada, sustentável, competitiva e inclusiva, alinhada aos desafios agrícolas e ecossistêmicos da região.
O orador principal foi Manuel Otero e, no painel de alto nível, participaram Víctor Carvajal Porras, Ministro da Agricultura e Pecuária da Costa Rica; Laura Suazo, Secretária de Estado de Agricultura e Pecuária de Honduras; Renata Bueno Miranda, Secretária de Inovação, Desenvolvimento Sustentável, Irrigação e Cooperativismo do Ministério da Agricultura do Brasil; Nick Kenner Estrada Orozco, Vice-Ministro de Desenvolvimento Econômico Rural da Guatemala; Rossana Polastri, Diretora Regional da Divisão da América Latina e do Caribe do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola; Franz Rojas, Diretor de Água e Saneamento do CAF-Banco de Desenvolvimento da América Latina e do Caribe; e Mario Lubetkin, Representante da FAO para a América Latina e o Caribe.
A apresentação foi realizada por Carlos de Miguel, Chefe da Unidade de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável, enquanto a moderação e o encerramento esteve a cargo de Mónica Rodrigues, Oficial de Assuntos Econômicos da Divisão de Desenvolvimento Agrícola da CEPAL.
Tecnologias inovadoras para a água
“A agricultura da nossa região, além de produzir alimentos, pode ser uma grande produtora de água, para o que devemos recorrer a tecnologias absolutamente inovadoras”, disse Otero.
“É urgente que as novas tecnologias visem fortalecer a transformação dos sistemas agroalimentares, e o uso da água é um tema fundamental”, acrescentou Otero, que admitiu que a eficiência desse uso na América Latina e no Caribe é baixa, e isso deve ser corrigido de maneira urgente por meio da colaboração público-privada.
“Acreditamos que quando falamos de crise da água e da pouca disponibilidade dos recursos hídricos vemos o setor agropecuário como um ator indispensável para procurar uma solução”, afirmou, por sua vez, Carvajal Porras, que contou sobre os projetos que estão sendo executados na Costa Rica vinculados à irrigação e a reservatórios, para levar água para agricultores que têm pouca disponibilidade.
Laura Suazo também se referiu à importância da irrigação e contou que em Honduras se trabalha em um plano diretor nacional que busca ampliar as experiências positivas de alguns distritos do território.
“A partir de uma nova política de Estado para o setor agroalimentar para os próximos 20 anos, reconhecemos que a irrigação é fundamental, e já estamos elaborando a base do que será uma proposta de lei para que seja destinada uma parte do orçamento nacional a cada ano para esse fim”, revelou.
Renata Bueno Miranda contou como o Brasil em poucos anos se converteu em uma grande potência mundial na produção de alimentos: “Mudamos a nossa situação porque havia solos ácidos e de baixa fertilidade. Tivemos que transformar esses solos, e a lição é que é fundamental que todos os países valorizem a ciência local e compartilhem os conhecimentos que forem desenvolvidos, porque a partir disso é que se transformam realidades”. A funcionária brasileira também deu detalhes sobre os resultados do Plano ABC de agricultura de baixo carbono.
Na Guatemala, na segunda semana de abril será lançada a política nacional de irrigação, com a construção de uma infraestrutura para 45.000 hectares, antecipou Nick Kenner Estrada Orozco. “Consideramos que agora é o momento de investir nos camponeses e camponesas e é nessa direção que serão destinados os nossos recursos. A irrigação e o acesso à água são temas de justiça social e não nos importa o custo; precisamos levar infraestrutura aos povos indígenas”, afirmou.
Rossana Polastri contou sobre o trabalho que o FIDA vem realizando no Corredor Seco Centro-Americano: “Estamos trabalhando muito bem no tema de gestão hídrica e de acesso à água. Precisamos fazer isso rapidamente, uma vez que, com a mudança do clima, os desafios são grandes”.
Mario Lubetkin, por sua vez, enfatizou que “a água é um dos recursos mais valiosos do mundo e é uma base essencial para a agricultura. Mais de 95% dos alimentos são produzidos na terra por meio do uso dos solos e da água”.
Franz Rojas disse que apenas um terço das terras irrigáveis estão sendo irrigadas atualmente na região, e que melhorar essa proporção requer um conjunto de políticas. “É crucial — afirmou — o posicionamento do tema da água e da agricultura na agenda pública. No CAF, aprovaremos 4 bilhões de dólares em iniciativas sobre a água; para garantir que a água continue a ser o motor do desenvolvimento sustentável, precisamos de um bom planejamento e de uma boa governança”.
Mais informação:
Gerência de Comunicação Institucional do IICA.
comunicacion.institucional@iica.int