Projeto Viva o Semiárido reduziu pobreza rural no Piauí

Brasília, 13 de julho de 2022 (IICA) -  Com o objetivo de fortalecer a agricultura familiar em arranjos produtivos locais com potencial para geração de emprego e renda, o Projeto Viva o Semiárido (PVSA) contribuiu de forma significativa para a redução da pobreza e dos níveis de extrema pobreza da população rural do semiárido piauiense, por meio do incremento das atividades produtivas predominantes e do fortalecimento organizacional dos produtores rurais.

É o que revela o Relatório de Avaliação de Impacto do Projeto de Desenvolvimento Sustentável do Semiárido, elaborado pela Universidade Federal de Viçosa, segundo o qual o índice de pobreza multimensional da população beneficiada pelo PVSA teve queda de 10%. Outros resultados mostraram que pelo menos 75% das famílias aumentaram em 20% a renda média agrícola e não agrícola e 20% relataram melhorias no índice de propriedade de bens domésticos.

Além disso, 18% informaram aumento anual dos volumes de vendas de produtos comercializados apoiados pelo Projeto. Com relação à produção, 60% das famílias afirmam que houve incremento e o mesmo número de famílias relatam a adoção de novos, tecnologias ou práticas.

O PVSA teve início em abril de 2013 com o acordo de financiamento entre o FIDA e o Governo do Estado. O Acordo com o IICA para apoiar na gestão administrativa foi assinado em março de 2014 e previsto para ser encerrado em dezembro próximo. O projeto Fortalecimento Institucional e das capacidades de gestão dos órgãos executores do Projeto de Desenvolvimento Sustentável do Piauí – Viva o Semiárido” é executado pela Secretaria da Agricultura Familiar (SAF) e demais parceiros com recursos do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) e com contrapartida do estado do Piauí. No PVSA foram efetuados investimentos produtivos em 210 associações e cooperativas locais de produtores.

“Com um maior alinhamento com o governo federal, a partir de 2003, o estado do Piauí passou a ter fortes investimentos na área rural tanto em infraestrutura e logística como em estradas, energia e disponibilidade de água e na produção”, disse Gabriel Delgado, representante do IICA no Brasil, que se reuniu com a governadora Regina Sousa. “Paralelamente ao avanço do agronegócio no estado, houve uma preocupação do governo local em dar suporte à agricultura familiar em um esforço para não aumentar a desigualdade”, complementou Delgado, na reunião da qual também participaram a secretária de Agricultura Familiar, Patrícia Vasconcelos; o secretário de assistência Social, José Santana; e a secretária de planejamento, Rejane Tavares.

Ao longo de oito anos foram implementadas iniciativas para desenvolver habilidades e capacidades técnicas necessárias para melhorar a produção e a comercialização no âmbito local e municipal. Além disso, foram concentrados esforços para desenvolver capacidades, meios e procedimentos técnicos e operacionais para a promoção do desenvolvimento social e humano dos produtores da agricultura familiar. Também foram elaborados estudos e informações estratégicas para monitoramento e avaliação.

No Piauí, o agronegócio está mais concentrado no Sul do estado, na região do cerrado, enquanto o Norte e a região do Semiárido concentram as famílias agricultoras familiares.  É nesta região que entra a cooperação técnica do IICA voltada para fortalecer a produção e ajudar os produtores a inserirem suas mercadorias diretamente nos mercados consumidores. Neste caso, por meio da parceria com o FIDA e o governo do estado.    

"O PVSA é extremamente exitoso e se tornou referência para demais projetos financiados pelo FIDA não somente no Brasil", afirmou Hardi Vieira, oficial dos Programas do Fundo no país.  "O trabalho com a juventude por meio de capacitação de educação contextualizada, cursos profissionalizantes, além da colaboração com a sociedade civil organizada, principalmente para assistência técnica, são exemplos do comprometimento de toda a equipe com a redução dos índices de pobreza nas comunidades rurais do semiárido”, complementou.

Vieira destacou ainda ações fundamentais do Projeto para o fortalecimento de grupos mais vulneráveis durante e após a pandemia de COVID-19. “A visibilidade promovida às Cadernetas Agroecológicas tornou-se fundamental para fortalecer o diálogo com as mulheres no pós-pandemia. Além de fortalecer a autonomia das mulheres, ao mensurar e valorizar seu trabalho, a metodologia demonstrou a variedade de alimentos que os quintais produtivos oferecem às famílias”, disse. O Oficial de Programas do FIDA reforçou também que o PVSA apoiou de forma decisiva o estabelecimento do comitê que prevê a implementação de políticas públicas de ações afirmativas para mulheres rurais em todo o Piauí.

“A pobreza multidimensional é caracterizada não apenas pela falta de renda, mas de saúde, alimentação e bem-estar e os dez pontos de redução da pobreza sintetizam os resultados do projeto em todas as dimensões”, disse o agrônomo responsável em economia rural Marcelo José Braga, diretor do Instituto de Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável (IPPDS) da Universidade de Viçosa, responsável pelo estudo. Segundo ele, o projeto investiu em capital humano e social e houve uma importante inclusão das mulheres, jovens e população quilombola”, afirma.

Para a secretária da Agricultura Familiar do Piauí, Patrícia Vasconcelos, o Piauí se sente privilegiado, pois as comunidades rurais têm apresentando dados concretos, com aumento de renda. “Ficou bem claro o legado que o Viva o Semiárido trouxe para a vida das famílias por meio dos projetos produtivos, que geram renda e transformam a vida das pessoas. Poderíamos destacar o avanço da apicultura, da ovinocaprinocultura, da cajucultura no Piauí. Só tenho a agradecer pela equipe que atua diuturnamente para que isso tudo seja possível”, afirma a secretária da Agricultura Familiar, Patrícia Vasconcelos.

Segundo o superintende de Desenvolvimento Rural e coordenador do Projeto Viva o Semiárido, Francisco das Chagas Ribeiro, a finalização do projeto representa ainda uma transição para um novo acordo de empréstimo, com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o FIDA (Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola). O projeto Piauí Sustentável e Inclusivo (PSI) contará com mais recursos totalizando US$ 148 milhões e irá escalar a experiência do PVSA, de atender um número maior de municípios e introduzir novas ações como acesso à água e energias renováveis. “O novo projeto continuará o foco na redução da pobreza rural, na adaptação às mudanças climáticas e no trabalho com grupos mais vulneráveis, como é o caso de comunidades tradicionais, quilombolas, jovens e mulheres. Será um projeto ainda maior”, comenta.

Alcance - O projeto investiu em cadeias com potencial para gerar trabalho e renda em cinco territórios com alcance em 89 municípios. Em oito anos de implementação, o Viva o Semiárido, viabilizado por meio de um acordo de empréstimo com FIDA, no valor de US$ 33 milhões sendo: 20 milhões FIDA e 13 milhões de contrapartida do Estado e beneficiários, atendeu a 22 mil famílias com ações do Projeto. Em todas as áreas houve avanços importantes e geração de renda, qualificação técnica e empoderamento do público beneficiário, sobretudo mulheres, jovens e comunidades quilombolas.

Referência em Ovino-caprinocultura – Os aportes do Projeto na criação e comércio de ovelhas e cabras por arranjos familiares permitiu a aquisição de 25 mil matrizes e reprodutores de ovinos e caprinos, que resultaram no melhoramento genético, qualidade dos rebanhos e na construção de 2.518 centros de manejo, na implantação de três mil hectares de forrageiras e na aquisição de equipamentos e capacitação, além de assistência técnica continuada.

Exemplo de resultados concretos na ovino-caprinocultura é o município de Betânia, localizado no Vale do Itaim, na divisa com Pernambuco, que, por meio do trabalho e organização da associação local, a Ascobetânia, tornou-se um polo produtor e fornecedor de carne diretamente para os consumidores. Além do reconhecimento pela qualidade do produto, Betânia se converteu em referência não apenas no fornecimento de animais para abate, mas também na venda de animas matrizes e reprodutores. Com a ajuda do projeto Viva o Semiárido, a Ascobetânia investiu na infraestrutura da cadeia produtiva, no manejo alimentar e sanitário.

“A região pode ser dividida em antes e depois deste trabalho. Antes havia muita carestia aqui no município e falta de renda. Hoje as famílias tiram o sustento da atividade e conseguimos chegar nos consumidores sem os atravessadores. Nosso produto é uma referência em qualidade. O projeto ajudou a organizar a cadeia com suporte forrageiro para alimentação dos animais, capacitação, entre outras ações”, contou Francisca Neri, vice-presidente da Ascobetânia.

O número um em mel –  A coroação pelos esforços e investimentos na apicultura no Estado veio no ano passado, quando o Piauí assumiu o primeiro lugar, posição que ainda ocupa, entre os estados brasileiros que mais exportaram mel orgânico, sobretudo, para os Estados Unidos e para a Europa, de acordo com dados do Ministério da Economia. O resultado atingido tem uma importante contribuição do PVSA que aportou recursos que viabilizaram a aquisição de 27 mil colmeias e a construção ou reforma de 39 centros de processamento de mel (casas de mel), além de investimentos em automação de processos manuais e aquisição de equipamentos e veículos, que contribuíram para a ampliação da produção e a melhoria da agroindustrialização.

No município de Massapê, por exemplo, a Associação de Apicultores da Data Boa Vista (Abomel) organiza 35 produtores e vem batendo recordes de produção. “No ano passado colhemos 27 toneladas e batemos nosso recorde anterior de 24 toneladas e tudo indica que este ano vamos ter outro recorde de produção”, disse Ronielton de Carvalho Veloso, presidente da Abomel. Segundo ele, foi pelo Projeto que a associação conseguiu a Casa do Mel, colmeias, equipamentos de proteção individual, entre outros benefícios.

Cerveja a base de Caju – A AMBEV passou a produzir no Piauí uma cerveja a base de caju, com boa parte da fruta utilizada adquirida de produtores beneficiários do Viva o Semiárido. Foi possível oferecer um produto de qualidade para a cervejaria graças aos investimentos na agroindustrialização,

Considerada frágil, a produção de caju carecia de organização na cadeia produtiva, principalmente depois do período de seca que se prolongou de 2012 a 2019, o que dizimou muitos pomares. Os aportes do Projeto na cajucultura resultaram na recomposição dos pomares de cajueiros; inovação tecnológica com uso de hidrogel, importante para manter a umidade do cajueiro especialmente no período da estiagem; e modernização do processo de beneficiamento de castanhas, com aquisição de máquinas e equipamentos para automação para atividades que antes eram manuais.

Produção limpa de mandioca - atividade secular na região, que carrega um aspecto sociocultural importante, a mandiocultura tem considerável potencial de poluição ambiental. Por isso, o Projeto buscou qualificar e modernizar os processos dada a importância econômica deste cultivo para as famílias. Os recursos aportados modernizaram as plantas de produção de cinco comunidades ao tempo que introduziu inovações tecnológicas como a propagação rápida de maniva com uso da biotecnlogia, implantação de duas Unidades de Transferência de Tecnologia, além do tratamento de efluentes das agroindústrias de processamento -  casas de farinha com o uso de biodigestores. 

Quintais Produtivos - Uma das apostas do Viva o Semiárido, que obteve resultados muito positivos para as mulheres rurais do estado, foram os inovadores Quintais Produtivos, que reforçou o papel das mulheres na produção e segurança alimentar das famílias. O quintal produtivo é caracterizado pela multiplicidade de atividades como plantio de hortaliças; criação de pequenos animais, como aves e suínos; pomares; criação de peixes, além da venda, troca e consumo das famílias. Muitos desses quintais se beneficiarem da ferramenta Cadernetas Agroecológicas, em cooperação com o programa Semear Internacional, também financiado pelo FIDA e executado pelo IICA no componente de gestão do conhecimento.

Os quintais possuem importância estratégica na segurança alimentar e na composição da renda familiar que, historicamente, teve pouca visibilidade. Para além do aspecto produtivo, em paralelo com a estratégia das Cadernetas Agroecológicas, essa ação resultou em importantes avanços no empoderamento de mulheres no processo produtivo e nas relações organizativas e familiares. Foram implantados 503 quintais produtivos, 352 dos quais protagonizados por mulheres.

Tilápias e Camarões: Atividade ainda pouco difundida e com limitações pela pouca disponibilidade hídrica da região, a piscicultura foi uma aposta ousada do Projeto, que tem dado certo. Os aportes resultaram na ampliação dos cultivos e na introdução de técnicas de beneficiamento que agregaram valor de mercado, como por exemplo a filetagem da Tilápia. Em parceria com o programa “Água Doce”, iniciativa do governo federal coordenada pelo Ministério do Meio Ambiente, que utiliza água de sistemas de dessalinização, executado pelo Emater no Piauí, foi possível introduzir o cultivo de camarão em quatro projetos experimentais. Os resultados ainda estão sendo analisados e avaliados.

Investimentos em tecnologias sociais como reúso de água, implantação de sistemas de energia solar experimentais, fogões ecológicos são exemplos e ações transversais que foram adotadas em vários componentes do projeto e estão em linha com as práticas recomendadas para a adaptação ás mudanças climáticas.

Mais informações:

Instituto Interamericano de Cooperçaão para a Agrciultuira (IICA)

Coordenadora de Comuniação: Claudia.dianni@iica.int (61) 99138 4898

Secretaria de Agricultura Familiar do PI

Coordenador de Comunicação: Pedro Vitor Melo pedrosafpi@gmail.com (86) 98854 4456