Implementação de iniciativas para a transformação dos sistemas agroalimentares depende de compromissos políticos, ressaltaram representantes das organizações internacionais que realizam o encontro das altas autoridades agrícolas das duas regiões.
CÚPULA MINISTERIAL ÁFRICA-AMÉRICA FOCA NA COOPERAÇÃO E PRODUTIVIDADE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL PARA ENFRENTAR FOME E DESNUTRIÇÃO E TRANSFORMAR SISTEMAS AGROALIMENTARES
San José, 28 de julho de 2022 (IICA) - A Cúpula, que ocorre desde ontem em São José da Costa Rica, busca promover o intercâmbio de experiências para acelerar transformações positivas nos sistemas agroalimentares e foi convocada e organizada pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), a Agência de Desenvolvimento da União Africana-Nova Aliança para o Desenvolvimento de África (AUDA-NEPAD) e a Aliança para a Revolução Verde na África (AGRA) em um momento particularmente importante, quando uma crise sobreposta – de saúde, ambiente e uma guerra - ameaça segurança alimentar mundial.
“O sistema agroalimentar global apresenta desafios claros nas próximas décadas. A primeira é alimentar cerca de 9,5 bilhões de pessoas em 2050; a segunda é manter os recursos naturais funcionais, nos quais se baseia a produção agrícola e pesqueira, incluindo a biodiversidade; o terceiro, enfrentar as mudanças climáticas com medidas de mitigação e adaptação às mudanças que já estão surgindo como inevitáveis”, disse Stephan Brunner, vice-presidente da Costa Rica, um dos palestrantes que abriu o encontro.
“Estamos diante de uma reunião, uma Cúpula que é muito oportuna, quando o mundo enfrenta aumento nos preços dos alimentos que afetam particularmente os países pobres e em desenvolvimento. Mesmo antes da pandemia de Covid-19, já havia interrupções nas cadeias de suprimentos”, disse a comissária do Departamento de Agricultura, Desenvolvimento Rural, Economia Azul e Sustentabilidade Ambiental da Comissão da União Africana, Josefa Leonel Sacko.
“Se queremos acabar com a fome e cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e a Agenda 2030, estamos caminhando na direção errada. É urgente trabalhar para enfrentar a desnutrição e a fome na África, enquanto na América Latina e no Caribe a situação não é muito diferente. Temos populações jovens e a aliança entre os dois continentes é mais importante agora do que nunca, porque os desafios são comuns para construir sistemas agroalimentares mais sustentáveis e inclusivos”, complementou Sacko.
“A crise é muito séria e não podemos deixar ninguém para trás. As Américas produzem uma em cada três toneladas de alimentos comercializados no mundo. A África é muito poderosa. Temos que estar unidos, pois temas e complementaridades nos unem. Somos chamados a desempenhar um papel decisivo em matéria de segurança alimentar, ambiental e energética. Não podemos fugir desse papel de liderança”, disse o diretor-geral do IICA, Manuel Otero. “Este é um encontro histórico no qual devemos continuar estreitando os laços culturais para fortalecer os sistemas agroalimentares. A hora é agora porque os tempos são curtos. Esta reunião deve ser um ponto de viragem”, concluiu.
PRESERVAÇÃO E INVESTIMENTO EM PESQUISA - O cientista Joachim von Braun, diretor do Centro de Pesquisa para o Desenvolvimento e professor de Economia e Mudança Tecnológica da Universidade de Bonn, destacou que as principais linhas de ação dos dois continentes devem incluir esforços para estabelecer uma agenda que reflita seus interesses, a troca de conhecimentos e experiências em ciência e inovação, união para promover um comércio internacional de alimentos que seja confiável e o uso responsável dos recursos naturais, com ênfase na proteção das florestas da Amazônia e do Congo.
“Precisamos mudar a forma como vemos o mundo. A África e as Américas podem se complementar e têm muito a aprender umas com as outras. O desafio é que estamos lidando com uma crise multidimensional e transformar os sistemas agroalimentares em meio a uma crise é uma tarefa difícil”, disse Von Braun, que liderou o grupo científico em 2021, que reuniu cerca de 50 especialistas na Cúpula de Sistemas Alimentares da ONU.
Von Braun destacou, que é fundamental que os países das duas regiões aumentem seus investimentos em pesquisa, considerando que a ciência e a tecnologia são a chave para alcançar uma agricultura mais produtiva e resiliente, protegendo os recursos naturais. Segundo ele, na África apenas 0,3% do PIB é destinado à ciência enquanto essa proporção é de 0,7% na América Latina. "Pelo menos 1% deve ser alcançado nos dois continentes", enfatizou.
CESTA BÁSICA DO MUNDO - A África tem capacidade e recursos para se tornar a cesta de alimentos do mundo, e o continente americano pode ajudá-la a conseguir isso, disse o laureado cientista Rattan Lal, Lal, considerado a maior autoridade mundial em ciências do solo, quem ofereceu um panorama detalhado dos principais obstáculos enfrentados pela produção agrícola na África e disse que, apesar dos problemas, as savanas africanas podem se transformar em uma grande fonte de alimentos, como ocorreu com o Cerrado brasileiro, com uso de ciência e tecnologia.
“Uma revolução verde na África deve ser baseada na ciência e no terreno. As pessoas são um reflexo do solo em que vivem. Quando o solo está degradado, as pessoas sofrem. Ao mesmo tempo, se as pessoas não têm uma boa qualidade de vida, o solo se deteriora. Este é um ciclo vicioso que nunca termina”, disse o cientista, diretor do Centro de Gestão e Sequestro de Carbono da Universidade Estadual de Ohio, parceira do IICA na iniciativa "Solos Vivos das Américas", que coordena esforços públicos e privados no combate à degradação dos solos, fenômeno que ameaça produção de alimentos e segurança alimentar.
“Todo mundo diz que os produtores devem ser recompensados, mas ninguém os recompensa. Eles precisam de recursos para cuidar do solo”, disse. E acrescentou que o setor privado pode ter um papel muito importante ao fornecer a tecnologia ao produtor para realizar práticas conservacionistas e regenerativas.
Segundo Lal, aproximadamente 49% dos territórios na América Latina e no Caribe estão expostos à erosão hídrica e cerca de 56% da terra estão afetadas pela degradação química do solo. NA África, 180 milhões vivem em solo degradado. De acordo com o especialista, a África subsaariana tem 20% dos solos férteis, mas consome apenas 2% dos fertilizantes usados, comparou para destacar o potencial de transformação no continente.
O cientista destacou ainda que a população das principais cidades da África está crescendo de 10 a 12 vezes em 30 a 40 anos. “Até 2100, a maior cidade do mundo será Lagos, na Nigéria, com 85 milhões de habitantes. É preciso pensar que uma cidade com 30 milhões precisa de 200 toneladas de alimentos por dia, então, os urbanistas têm que levar em conta que 20% da agricultura deve ser feita nos limites da cidade, com mais hidroponia e terraços de cultivo”, destacou e enfatizou que será necessário vontade política para acelerar as ações de cooperação.
Cleber Soares, secretário de Inovação, Desenvolvimento Sustentável e Irrigação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, rerpresentou o ministro Marcos Montes. Ele propôs a criação de uma rede de bioinsumos.
“Por que não criar uma agenda de bioinsumos ou uma rede africana-latino americana de bioinsumos para reduzir os custos do menor ao maior produtor? Por que não criar uma rede de inovação África-América. O Brasil é parte e está pronto para ser parte estratégica deste programa”, disse.
O encontro termina na sexta-feira, quando será divulgado um comunicado conjunto. Além de ministros de agricultura, meio ambiente e ciência e tecnologia, organizações multilaterais de crédito, cooperação e o setor privado também participam do encontro. A Cúpula Ministerial África-América sobre Sistemas Agroalimentares conta com o apoio da Bayer, CAF-Banco de Desenvolvimento da América Latina, Grupo Banco Mundial, Microsoft, Rabobank, Syngenta e Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
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