Iniciativa no âmbito do projeto Innova AF vai beneficiar 140 unidades agrícolas
Agricultura familiar na Borborema (PB) ganha reforço para enfrentar mudanças climáticas
Brasília, 27 de outubro de 2020 (IICA) – Pequenos produtores rurais da região da Borborema, na Paraíba, passam a contar com mais uma iniciativa de fortalecimento de suas atividades agrícolas a partir deste mês. Trata-se de uma nova frente de ação no âmbito do projeto Innova AF, cujo objetivo é promover a gestão do conhecimento para a adaptação da agricultura familiar às mudanças climáticas, de forma que produtores desenvolvam resiliência e eficiência produtiva, garantindo renda e segurança alimentar para as famílias.
Sob gestão do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), o Innova AF conta com financiamento do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA). De acordo com o coordenador nacional do projeto, o especialista em cooperação do IICA João Lucas Fontana, a nova frente está organizada como um subprojeto do Innova-AF e as práticas serão realizadas com o Polo Sindical e as Organizações da Agricultura Familiar da Borborema (POAB) em parceria com a Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa (AS-PTA).
Intercâmbios para conhecer novas técnicas; oficinas comunitárias sobre apicultura, manejo integrado das águas, ecológico, de quintais, de sanidade e alimentação animal; revitalização da cultura da mandioca (produção e beneficiamento), oficinas de avaliação dos impactos das Mudanças climáticas e de estratégias de adaptação, entre outras atividades, são exemplos de ações a serem desenvolvidas.
Serão beneficiadas diretamente 140 unidades produtivas, com agricultores jovens e adultos, em 21 municípios do território da Borborema, entre eles Lagoa Nova, Areial, Esperança, Lagoa Seca, Queimadas, Remígio e Solânea, e cerca de duas mil famílias do entorno também serão beneficiadas indiretamente.
Segundo Fontana, como resultados, espera-se que as famílias incorporem as inovações, desenvolvam um plano estratégico para adaptação e enfrentamento às mudanças climáticas e que as lideranças e comissões técnicas do Polo se tornem aptas a utilizar sistemas de indicadores, diagnósticos e monitoramento. Serão envolvidos nas atividades 150 lideranças sindicais e comunitárias, 120 assessores técnicos, pesquisadores e gestores públicos.
Na avaliação de Paulo Peterson, coordenador executivo da AS-PTA, a lógica adotada na Borborema tem sido a geração de conhecimento a partir do território e com atuação conjunta. “O conhecimento é um bem comum. Respeitamos a construção social e as técnicas dos territórios”, explica.
O território da Borborema está inserido no semiárido paraibano e abrange uma área de 3.341,7km². A região enfrenta escassez de chuvas e a vegetação local, caracterizada predominantemente pela caatinga, está em estado avançado de devastação devido à adoção de más práticas. O processo de desertificação na região é tão intenso que corresponde a 62% das áreas suscetíveis à desertificação no Brasil. A região também enfrenta perda de biodiversidade. A acelerada degradação ambiental na caatinga também é consequência das queimadas e do uso da lenha e do carvão, o que resulta no empobrecimento das famílias agricultoras.
Segundo Roselita Vitor, coordenadora da Organização Polo, o território é caracterizado pelo empenho dos agricultores em práticas agroecológicas. “A expectativa é que o projeto fortaleça ainda mais as comunidades na gestão coletiva de bens comuns e construa conhecimentos sobre as mudanças climáticas, cada vez mais perceptível nesta região”, disse.
Com foco regional, o Innova AF é desenvolvido também na Bolívia, na Colômbia, no Equador, na Guatemala, em Honduras, na República Dominicana e no México. No Brasil, o território da Borborema foi selecionado para integrar o projeto por ser uma região que já desenvolve inúmeras experiências bem sucedidas de convivência com a seca. “É um projeto muito moderno, que permite um intercâmbio forte entre os países. O Brasil trabalha bem essas temáticas e as instituições que atuam nesse meio poderão contribuir, e muito, com outros países, na adaptação a mudanças climáticas”, avaliou Rodolfo Daldegan, subgestor do projeto no IICA.
Leonardo Bichara Rocha, oficial do programa do FIDA, destacou a importância da coordenação com outros projetos do FIDA na região, como o Projeto de Desenvolvimento Sustentável do Cariri, Seridó e Curimataú (Procase) e o Semiárido Internacional, o que, segundo explica, multiplica resultados e impactos.
Com orçamento de US$ 175.428,00, dos quais US$ 105.238,00 são aportes do Innova AF e US$ 70.190,00 correspondem a contrapartida local, o subprojeto terá duração de 14 meses.